sábado, junho 12, 2010

Princesa por um dia...

Começou a tarde
Duche prolongado
Correria constante para ter tudo pronto a horas
Para não chegar atrasada.
Maquilhagem:
pós, brilho, rimel,
lápis e base,
tudo para esconder o detalhe imperfeito,
para gerar o mito
e reforçar os seus contornos.
Carro, 140 km/h,
para chegar ao cabeleireiro.
O vestido na mão,
os sapatos na outra:
Não tenho tempo,
Não há tempo,
o tempo já passou
e ainda aqui estou.
Nervos, muitos nervos,
O cabelo deu voltas e voltas,
Fixado por laca,
mais ganchos que pareciam não ter fim.
Finalmente,
o penteado pronto,
olho-me ao espelho e não me reconheço:
"Quem és tu,
bela criatura do espelho?"
Vestir,
tentar não estragar o mito,
a altivez da popa aos sapatos.
A lágrima no canto do olho,
da mãe que vê a sua criança crescer
e tornar-se mulher.
O espanto na cara da criança
que se olha ao espelho e percebe
que a criança, agora mulher,
parece a princesa que sempre quis ser,
por um dia.
Este é o dia.
O carro arranca e o destino é certo,
Ela pensa nas possíveis reacções,
mas depois cala-se o pensamento
e volta a voz dentro da cabeça que lhe diz:
"O que interessa é que tu gostas
e te sentes bem contigo mesma"
E ela sentia-se bem,
sentia que tinha erguido um escudo à sua volta
que impedia que os outros vissem as suas imperfeições,
as suas fraquezas e incorrecções,
tudo aquilo que ela deixava à mostra
no dia a dia,
mas este não era um dia desses...
Assim, chegou,
Abriu a porta do carro
e inspirou fundo,
estava mais alta,
num sentido que mais ninguém entenderia,
estava orgulhosa,
passou o rito,
alí estava ela,
deu os primeiros passos e as portas abriram-se,
seguidas pelas bocas de quem a via:
Não parecia ela,
mas era ela.
Os seus olhos espelhavam os seus sentimentos,
Os mesmos olhos que cativavam a sala inteira
e desprendiam elogios dos demais.
Foi uma revelação,
pode não ter sido rainha,
mas a tiara estava lá,
invisível aos olhos dos outros,
mas ela sentia-a,
sentia-se uma princesa
num conto de fadas e,
por um dia,
esqueceu a vida real,
esqueceu os ódios, as crises,
os medos e o pudor,
e brilhou,
com o brilho verde esperança
que irradiavam os seus olhos
cheios de alegria.

2 criticas construtivas:

Anónimo disse...

Só queria ter assistido a tudo, de perto, na primeira fila. Estavas linda e disso eu sei. :)

Inês Gouveia disse...

Pois sabes, mandei-te logo uma foto :p E ainda hei-de te mostrar mais! :D