domingo, dezembro 02, 2007

Este texto irá provavelmente ser aquele que vou apresentar a português. Acho que está bom por isso resolvi postá-lo, pois penso que passa uma mensagem importante.

Acordar para a morte

Há quem diga que acordamos para a vida, mas naquele dia eu acordei para a morte. Não me lembro da data, apenas do mês e do ano. Março de 2007. Recordo com tristeza todo esse dia, todos os momentos que vivi, todas as coisas que fiz e tudo aquilo que senti. Toda a gente sabe o que é perder um ente querido, mesmo que nunca lhe tenha acontecido isso. Eu era uma dessas pessoas até esse dia. Nada nem ninguém me poderá fazer esquecer aquela manhã mórbida e fora do normal. A manhã em que acordei para a morte.
Acordei sobressaltada. Eram 8 da manhã. Não era normal acordar a essa hora. “Devo ter tido um pesadelo.” – disse para mim mesma. Mal sabia eu que o “pesadelo” estava a uns minutos de distância. Dirigi-me para as escadas e ouvi alguém a chorar. Era a minha mãe. Perguntei-lhe o que se passava, porque estava assim. Ela disse-me que o meu avô tinha tido outra daquelas noites horríveis e que tinha ido de urgência para o hospital. O certo é que aquela doença que o debilitava cada vez mais, tinha outra vez levado a melhor sobre ele, já que aquele tipo de noites já se tinham repetido inúmeras vezes mas o meu avô acabava sempre por vencer a doença e voltar para casa, e por isso mesmo interroguei-me: “ Se ele foi para o hospital outra vez, porque é que estará ela a chorar? Seria normal estar preocupada e não assim.” Momentos depois veio o meu pai e disse-me para voltar para a cama, e também ele estava estranho, um tanto amargurado.
Voltei para o meu quarto e deitei-me junto ao meu irmão que, como sempre, tinha tido pesadelos e tinha ido para a minha cama. Fiquei um pouco a pensar no assunto mas depois adormeci outra vez. Momentos depois fui acordada. Era o meu pai. A sua cara estava lavada de lágrimas e então disse-me aquela frase que para sempre ficará na minha memória: “ Inês, o avô morreu.” Nesse momento o tempo parou. O meu avô estava morto. Tive uma espécie de flashback. Comecei a ver na minha mente os momentos que tinha passado com ele. Aquela vez em que eu tinha fome e ele tirou do seu bolso das surpresas um amendoim para me dar. Aquele dia em que me pousou no seu colo e me deixou guiar a carrinha. Aquele dia em que me deu, pela primeira vez, uma palmada no rabo por estar a implicar com o meu irmão. Aquela noite em que me contou que quando era novo apanhava todos os contrabandistas e ladrões de azeite das redondezas. Vi tudo isto e mais alguma coisa passar diante de mim, rapidamente e sem som, como um filme mudo. Tinha tanto para lhe dizer ainda, tanto para lhe mostrar, para lhe perguntar. Nunca cheguei a saber tudo o que queria e ele nunca chegou a ver tudo o que eu queria que ele visse. Eu sei que ele partiu para um sítio melhor, mas ele não merecia. Tinha ainda tempo de viver, tempo de ver mais coisas. Mas a doença tinha vencido daquela vez. Após isso o tempo voltou ao normal e a minha primeira reacção foi: “Ele sofreu?”. Depois disso chorei. Chorei por não me ter despedido dele, chorei por ter perdido o meu “amigalhaço”, chorei por ter perdido o meu avô.
Foi uma manhã que ficou para sempre marcada na minha memória como sendo a manha em que acordei para a morte: A morte do meu avô.

Já sabem, não guardem para vocês o que têm a dizer a uma pessoa pois nunca se sabe o que o destino lhe reserva a ela ou até mesmo a nós.

Enjoy...



1 criticas construtivas:

inês disse...

Nunca conheci o teu avô mas deixaste-me com la'grimas nos olhos.

@