Infelizmente sinto que não consigo falar do meu avô sem chorar, e como não quero fazer figura de triste e que tenham pena de mim, vou antes fazer sobre a minha maninha pequena. E aqui está ele.
Uma irmã do Coração
Quando falamos de irmãos e irmãs, pensamos unicamente naqueles que estão unidos por um laço de sangue, isto é, filhos dos mesmos pais. Mas quem pensa que apenas existem irmãos de sangue, então está enganado. Eu digo isto porque tenho uma irmã, uma irmã do coração, a minha maninha Rita e no dia em que a conheci formei este laço de amizade e carinho, que quero que dure por muitos e muitos anos.
Tinha onze anos de idade quando a conheci pela primeira vez. Há muito tempo que uma grande amiga da minha mãe estava à espera para adoptar uma criança e eu, como é natural, estava curiosa para a conhecer. Até que, numa tarde de Primavera, fomos à casa da amiga da minha mãe e lá estava ela. Embora já a tivesse visto numa foto, foi uma surpresa para mim porque ela era ainda mais fofa e pequenina ao vivo. Ela tinha apenas 2 anos, cabelo castanho-claro e uns olhos castanhos grandes e expressivos. O meu primeiro pensamento foi:”Como é possível que os pais biológicos não tenham gostado desta pequena criança tão linda?”. Lembro-me do que estava a fazer quando a vi pela primeira vez. Estava sentada num triciclo e a andar à volta da cozinha. Aproximei-me dela e apresentei-me. Ela disse-me olá e depois continuou a andar de triciclo. Depois perguntei-lhe se não queria ir comigo até ao quintal e ela disse que sim por isso lá fomos nós. Ela era um pouco tímida, mas à medida a que fomos brincando, a que nos fomos conhecendo melhor, ela começou a interagir mais comigo e assim fomos ficando amigas, ao longo daquela tarde diferente. Fizemos de tudo um pouco: Molhámos os pés na água da piscina, vimos os cães da amiga da minha mãe, jogámos à bola, ensinei-lhe a fazer o sinal de fixe e entre outras coisas. Ela era tal e qual como eu na idade dela: brincalhona, marota, faladora, corajosa e irrequieta. Essa tarde fez-me recordar a minha infância e fez-me recordar o meu sonho de ter uma irmã mais velha. Ela lá achou graça ao meu nome e em vez de Inês chamava-me Chinês e em vez de “difícil” dizia “difácil”, andava sempre a correr de um lado para o outro, a descobrir novas coisas, conhecer o mundo, coisas que também eu fazia quando era pequena.
Brincamos até ela ter que se ir embora para a casa da família de acolhimento, pois nesse dia ainda ficava com eles. E quando me fui para despedir ela não me largava e acabei por ir levá-la até casa, juntamente com os seus pais adoptivos. A viagem foi uma diversão e ela estava sempre a chamar-me Chinês e a tirar os sapatos, feita tontinha. Quando chegámos à casa da família de acolhimento, ela apresentou-me ao Francisco e à sua irmã, que eram filhos das pessoas que a acolheram, a quem, na brincadeira, ela chamava de Quiquinho, o Macaquinho.
Quando me fui para despedir dela, abraçamo-nos e ela disse-me aquelas palavras que me ficaram marcadas no coração: Adeus mana. Nesse momento senti-me a pessoa mais sortuda do mundo, por ter conseguido dar amor e carinho a uma criança que dele necessitava, por ter ganho uma nova irmã e por ter conseguido compensar, de certa forma, o meu sonho de infância, que era ter uma irmã mais velha, pois tornei-me numa irmã mais velha de coração. Ainda hoje sou a irmã dela e ela é a minha maninha pequena, e quando olho para ela vejo-me a mim, aquela criança viva e cheia de alegria, aquela criança marota e irrequieta que fui e sempre serei.
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