sexta-feira, junho 26, 2009

Memórias de tempos passados

Passo em frente daquela janela. Antigamente costumava olhar para ela com a eterna esperança de te ver mas, hoje, olho para ela e sei que essa esperança perdeu-se com o tempo. No lugar dela, estão apenas os brinquedos de uma criança. Olho e volto a olhar. No fundo lembro-me das vezes em que sonhei que aparecias nela para me olhar ou mesmo cumprimentar. Um pequeno gesto, era tudo o que bastava para aquecer o meu pobre coração apaixonado. Hoje em dia, já se perdeu esse primeiro amor, esse amor inocente mas que tantas vezes me fez sofrer a mim, pois tu, tu nunca sofreste, tu nunca soubeste o que é ser rejeitado todas as vezes que tentas mostrar o que sentes. Mas compreendo-te, no fundo. Não se escolhe quem se ama ou deixa de amar.
Passeio por estas ruas que, em tempos, eram o pátio das minhas brincadeiras, o meu recreio, mas que hoje são apenas ruas por onde passeio, ruas da minha prisão pessoal. Sim, estou presa, falta pouco para sair, mas por agora não consigo. Fujo, mas acabam sempre por me apanhar e voltar a aprisionar, nesta terra, neste pequeno grande mundo de pernas para o ar, sem lógica e sem qualquer sentido. Por debaixo das terra e da erva tudo apodrece... e eu não quero, não posso, não consigo continuar aqui. Tentam que eu apodreça, que me junte à demais sujidade, mas eu não vou ceder, não posso. Por isso não saio, por isso fecho-me num dos únicos sítios que ainda não apodreceu, que continua verdejante e vivo, ameaçado pelos vermes e insectos, mas que ainda resiste. Estas ruas, elas aprisionam-me, estas pessoas, elas oprimem-me, mas eu resisto, eu luto, travo uma batalha contra a maioria, defendo a minha pequena anarquia, que jamais conseguiram destruir. Tudo, para mim, mudou. Quando somos crianças não vemos o mundo que nos rodeia com os mesmos contornos que quando somos adolescentes. Apercebemo-nos que algo está mal, mas, desde que tenhamos amigos e que não se acabem as brincadeiras, por nós tudo bem. Mas agora que os amigos se tornaram inimigos, agora que conhecemos o outro lado do mundo, pensamos duas vezes e vemos que nem tudo é o que parece. Já nada me prende aqui, já nada me impede de partir. Sei que não deixo nada para trás, porque tudo aquilo que mais amo está guardado comigo no meu coração. Vou arrancar o rótulo que me puseram, começar uma nova vida, ter um futuro. Voltarei um dia, talvez para visitar aqueles que um dia me tentaram deitar abaixo, deixar que eles me vejam, para que vejam que mudei, que não me souberam dar valor, que tudo o que fizeram só me tornou mais forte. Espero, não, luto para que esse dia chegue, porque nesse dia, todas aquelas memórias de tempos passados, todo o sofrimento, terá valido a pena, porque consegui o que queria. Nesse dia, serei a pessoa mais feliz e vingada do mundo. Não me vou esquecer de nada, o meu coração guardará todas as cicatrizes que me infligiram. Já que não me vou juntar a eles, vou vencê-los no seu próprio jogo. Assim será.

sábado, junho 20, 2009

Sonhos, vidas, mundos

Quero viver sonhando,
sonhando que vivo vivendo,
num mundo que eu entendo.

Será real? Não sei,
como posso eu saber,
se, nem ainda sei,
se vivo num sonho,
ou sonho viver?

Será fantasia? Talvez
Num mundo tão irreal,
desleal e desigual,
não vejo qual é o mal
de viver num sonho.

De sonho em sonho,
é assim que vou vivendo
é este o meu eterno alimento
é assim que vou aprendo
e assim me sustento.

Prefiro assim viver
do que andar a recolher
os restos de um mundo
que já não o é,
passou a imundo,
pobre e sujo
como um vagabundo.

E assim vou sonhando
E assim vou vivendo
Até ao final do meu sonho.

Dádiva

Sou a mulher mais pobre do mundo
mas, no fundo sei,
que só o sou
porque, a este mundo,
tudo dei.

Dei suor,
lágrimas,
e restos de dor,
Dei-lhe risos,
felicidade,
orgulho e amor.

Tanto dei,
que julguei, então,
sem nada ter ficado,
Só que o mundo,
cruel vagabundo,
não se deu por contentado,
Arrancou-me tudo quanto era bom,
Despiu-me, maltratou-me, sujou-me.

Fiquei pobre,
de tudo o que dei,
apenas me restam cinzas e restos,
e foi com isto que fiquei
mais o meu coração.

Apesar de tudo ter dado,
apercebi-me, depois,
de, lá no fundo,
estar guardado,
dentro do coração,
bem fechado,
tudo aquilo que de bom há:
amizade, felicidade,
bondade,verdade,
bons e maus momentos:
toda uma vida intacta,
conservada apesar das adversidades,
dos choques, sofrimentos,
roubos e outras maldades.

Foi aí que compreendi,
que pobre nunca fui,
nem nunca serei,
tenho em mim guardadas
as maiores riquezas e tesouros
jamais imaginadas.

São elas que fazem de mim
lá no fundo
A mulher mais rica do mundo.